quinta-feira, 30 de junho de 2011

Novo

- Estar realmente bem ou não não faz mais grande diferença. O que acontece é que você sempre tem que estar bem, independente do que lhe acontece. É uma lei natural, as pessoas na realidade não querem saber como você se sente, querem sempre ter algo de bom pra sugar de você.
Ela suspirou se tragou o cigarro. Apoiou os cotovelos nos joelhos cobertos por um jeans surrado. Soltou a fumaça pelas narinas.
Ele apenas se recostou no banco, cruzou os braços e finalmente proferiu as palavras:
- Poxa, não conhecia esse seu lado depressivo. - E forçou um sorriso.
Ela conhecia seus sorrisos forçados. Foi o estopim.
- Não é o meu lado depressivo. É o meu lado humano, que, diga-se de passagem, permaneceu calado por tempo demais.
Ela se sufocava com suas próprias palavras e angústia. Soluçava suas lágrimas e o que ele fazia era observar.
Nunca a vira tão humana, tão triste, tão diferente.
Tentou puxa-la para um abraço, ela o empurrou. Continuou forçando um abraço enquanto ouvia os soluços das primeiras lágrimas que via rolar dos olhos dela.
Era diferente, ela novo, era confuso.
E ele não sabia como agir.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tédio

- Estou entediada. Estou cansada. Estou com saudades. Estou aqui embaixo. -Ela falou naquele aparelho brilhante.
- Suba. - Ele falou.
Ele a recebeu com a boca úmida e de braços abertos. Ela não quis saber de carinho, foi ávida nos lábios e logo estavam na parede. Os sapatos foram arrancados e a porta, trancada.
Ela o empurrou para o sofá de couro marrom escuro da sala de estar, fracamente iluminada pelos raios de sol que teimavam em escapar das nuvens daquela tarde friazinha de quase-inverno.
Ele trajava apenas uma toalha, estava saindo do banho quando recebeu o telefonema-telegrama e nem se preocupou em se arrumar. Não importava, nunca importou nem nunca se importará.
Ela se afastou dele e ele logo percebeu que ela iria repetir a dose daquela noite, só que dessa vez sem a embriaguez canelítica. Ela tranqüilamente abriu botão por botão da camisa, mostrando a tez clara com alguns avermelhados tão típicos dela. O sutiã era vermelho, constatou ele quando a camisa foi jogada em algum lugar.
Ela abriu a calça jeans revelando o conjunto do sutiã
- Continuo achando sua virilha linda - Comentou ele
- Pff.
A calça sumiu e de costas, ela retirou o sutiã que já estava com as alças caídas. A iluminação amarelada do pôr do sol combinava com ela.
Ainda de calcinha, ela se sentou no colo dele, o beijando.
As mãos dele foram direto para a bunda dela, e retirou a calcinha beijando seu colo.
Arfaram. Preencheram-se.
Encontram-se.

Ela se jogou na cama dele. De cabeça pra baixo, o observou observando-a.
Ele nem sabia se ela estava mesmo ali. A amava. Não era um relacionamento normal, mas funcionava bem dessa forma. A amava como pessoa.
- Sabe por que eu nunca disse que te amava? -Falou ela, de repente, interrompendo os pensamentos dele.
- Por que?
- Porque assim fica menos complicado para mim. Assim que eu falo isso, minha vida vira de cabeça para baixo.
Ele olhou para seus seios virados para cima e, olhando nos olhos dela, respondeu:
- Já não está virada?
Ela o ignorou solenemente, como se não precisasse dele e sim, de falar.
- Não que eu não sinta isso. Mas com você é diferente. O encanto geralmente acaba logo, mas com você ele não acabou... já que nunca existiu. Parece que é algo maior, mas eu não quero saber o que é, nem quero modificar o que temos.
Antes que ela retomasse a torrente de palavras, ele a calou com mais alguns beijos e a tomou nos braços.
Enquanto chovia, se entregavam um ao outro sem pudor.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Minhas Bonecas

Eu estava lá, observando calmamente. Isso era uma coisa rara, eu observar. Eu sou uma pessoa de tato, de agir, não de observar. Observava os fios loiros entrelaçando nos ruivos, da mesma forma em que os dedos se entrelaçavam. Os dedos longos se tocavam e as unhas compridas roçavam gentilmente a pele das mãos.

Os corpos se uniam de forma harmônica, tal qual uma dança. O som das batidas do coração embalavam um tango argentino. Afinal, tango era a nossa música, cheio de idas e vindas, percalços e reencontros e despedidas.
A pele branca se avermelhava, ora pelos toques, ora por estar sendo observada, ora por perceber o que estava fazendo. A boca vermelha era beijada por outra tão vermelha quanto, com pequenas mordiscadas. Vermelho era a cor dela.

As mãos ágeis e ansiosas percorriam os corpos, num reconhecimento tatil. Os mamilos rosados se encostavam, elas se arrepiavam. E eu, só fotografava com minhas retinas.

A loira era ousada, possessiva. Era forte, sabia o que queria, era decidida. A ruiva gostava das sardas dela.
A ruiva era tímida, tranqüila, fraca. Facilmente manobrada. A loira gostava dos olhos dela.
Eu gostava da bunda da ruiva e dos peitos da loira. Elas se completavam como uma mistura exótica de canela e maçã verde. Tinha que admitir que gostava muito daquilo, daquele entrosamento tão síncrono das duas.

Sorvi mais um gole da minha cerveja, passei a mão pela cabeça, arrumei os cabelos. Sorri para elas e ganhei dois sorrisos de volta. Faziam caras e bocas, as minhas bonecas. Se divertiam no seu joguinho de sedução.
Ouvia um gemido vez ou outra, se encaixando perfeitamente no tango da batida dos corações e observava o sorriso que o som fazia brotar no rosto da outra.

Se abraçaram e se aninharam uma perto da outra, adormecendo. Eu simplesmente levantei e as cobri. Dei um ultimo sorriso e saí do quarto, deixando-as dormindo um sono tranquilo.









Fim.
___________________________________________________________
Presente pro sr. João :D


terça-feira, 26 de abril de 2011

Diz um sim

Olhos da cor que só ela tem
unhas nos dentes tortos,
um sorriso malemolente.
Me diga, amas a mim?

A ruiva tem razão,
oras, todos tem.
E afinal, que mal tem?
Nada mudaria...

Finge um pouco,
dá um sorriso,
diz um sim.

Deito a cabeça no pescoço,
coração acelerado.
"é a posição"

Escuro,
brilho,
beijo.

domingo, 27 de março de 2011

La Rousse III

Ela encarava ele, encarava seus olhos verdes. Aqueles malditos olhos verdes indecifráveis.
Tomou mais uma dose. A cabeça rodava e ela já não enxergava somente aquele ser de olhos verdes. Encarava todos os seus problemas num conjunto.
O senhor-olhos-verdes a beijou. A mente dizia pra ela parar, o coração, pra se deixar levar.
Ela seguiu o coração, mas a mente era mais forte. 'Quem ele pensa que é, pra me virar a cabeça desta forma?'
Ela o empurrou para a parede. Ele a olhou com desejo. Ela sentia o mesmo.
Era um misto de amor e ódio. Não, amor não. Não era amor, era atração. E também não era ódio. Era só raiva. Raiva de se deixar ser usada daquela maneira. De se deixar levar pelo momento, pela atração.
Aquela brincadeira de gato e rato ela sabia aonde ia dar. Aquela coisa de sempre, a mesma desculpa de cada dia. E sempre aquele mesmo vazio que lhe acompanhava.
E não era somente com o senhor-olhos-verdes, era com todos. Ela se deixava ser manipulada sempre, com medo de se tornar sozinha.
Mas a solidão sempre chega, independente da quantidade de pessoas que a rodeiam.
E mais uma vez, ela se deixou levar. 'Será a última', mas ela sabia que não era. Nunca era.

La Rousse II

A ruiva estava sentada no banco perto da janela. Vestia uma regata branca e uma calcinha, e mais nada. Acariciava a cabeça de Toulouse enquanto olhava e não via o pôr-do-sol. Estava tentando se isolar.
O sol beijava sua face delicadamente. A maquiagem estava borrada, mas não se importava. Os olhos já estavam secos, ela já estava seca por dentro.
Pernas pararam perto dela, falaram algo. Ela não ouviu, não se importou. Ouviu o baque surdo da porta que tremeu o vidro da janela em que ela se encostava.
Gotas batiam no vidro. A noite já havia chegado e a chuva que estava teimando em não cair durante todo o dia, resolveu mostrar toda a sua força naquela hora.
Um raio cortou o céu e Toulouse saiu correndo do aconchego perto das pernas de sua dona, miando.
Ela deu um sorriso fraco, a tempestade a acalmava.
As luzes se apagaram, de repente. Mais um raio cortou o céu e iluminou o livro que lia. Um grande amigo deu a ela aquele livro, dizendo que ela precisava mais do que ele daquelas palavras.
Ela já tinha lido e re-lido todas aquelas palavras. E sempre compreendeu todas.
Sabia o que significava cada coisa. Mas saber o significado e fazer mudar a situação era bem complicado.
O celular vibrou, ela não atendeu.
E o vazio só crescia...
Ela sentia falta de algo que ela sabia que não valia a pena.

sábado, 26 de março de 2011

La Rousse

A ruiva estava deitada na cama pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo.
'Preciso de férias de mim mesma', pensou ela, farta de toda bagunça na sua vida
Se realmente fizesse um balanço na sua vida. teria medo de ver o resultado final.
Levantou-se, caminhou ao banheiro. As marcas vermelhas da noite anterior ainda estavam em suas costas e o gosto do alcool, presente em sua boca. Bagunçou mais um pouco os cabelos, que lhe cobriam os seios e roçavam gentilmente suas costelas.
Continuou andando despida pela casa vazia, se serviu de uma porção de chocolates.
Ligou o som e a voz rouca de Ray Charles invadiu o apartamento. Ignorou as cortinas abertas e se banhou de sol sem se importar com  a possível visão de algum vizinho.
Odiava aquela sensação de vazio dentro do peito, aquela dor de vinha do nada, ao mesmo tempo próxima e distante.
A falta de conhecimento do querer a deixava insegura. Por mais que tentava aparentar que nada a deixava para baixo ou que não se importava com opniões alheias, toda aquela situação a chateava.
Contornou os lábios com a mão. Se encarou no espelho. Lá, naquele lugar sagrado, ela estava sem nenhuma armadura, nenhuma máscara, nenhuma maquiagem.
Era o tempo de uma descoberta. Tocou a imagem refletida no espelho. Toulouse roçou suas pernas. Ela se abaixou e fez um carinho no gato da cor da noite.
Ligou a água que caía dentro da banheira e se deixou mergulhar nas suas emoções.
Sentiu as carícias nas costas. Não proferiu nenhuma palavra. Os arranhões arderam e sentiu um puxão nos cabelos da nuca, forçando a cabeça para a direita.
Ela encarou aqueles olhos indecifráveis. Mordeu o lábio. Com a mão molhada, traçou aquele rosto e quebrou o contato visual.
Os cabelos foram puxados com mais força desta vez e o encontro dos lábios foi inevitável. Os olhos indecifráveis sorriu entre o beijo e a ruiva o puxou para dentro d'água pelo braço.
Ele a sentou sobre si com uma facilidade incrivel e mordeu seu pescoço, ainda agarrando os fios.
Pele em contato com pele. Nenhuma palavra proferida, apenas murmuros.
Encaixaram-se. Ela fincou as unhas no ombro dele. Se beijavam, se encaravam. Tentavam se traduzir, cada um no olhar.
A ruiva deixou uma lágrima escapar.
Ele sorriu.

Mar

23:45
Estava chovendo pra caramba.
Fazia quase um mês que ela não dava notícias. Ele estava preocupado, será que ela resolvera realmente esquecer dele? Não... ela não faria isso, faria?
Acendeu um cigarro. Estava fazendo frio. Estava pensando nela, de novo. Em como ela se irritava com o vento frio cortando sua pele, ou a umidade estragando seu cabelo.
Se jogou na cama e viu na estante aquela caixinha da cor dos olhos dela. Se lembrou da conversa que tiveram sobre anéis, compromisso e presentes. Segundo ela, era babaquice demais usar uma aliança de compromisso, mas ficaria caidinha se um cara lhe desse de presente um anel pra ela. 'Inconstante', pensou ele, lembrando dela.
Já se passava da meia noite e meia, e ele na mesma posição.
Estava esperando ele algum sinal? A campainha tocou e ele nem se mexeu. Ouviu batidas na porta, levantou.
'Você?' Ele perguntou, amargado. Notou o cabelo dela, estava diferente,.
'Surpreso?', desdenhou ela, com aqueles dentes brancos. 'Eu disse que viria. Você que não acreditou.'
Ela não esperou convite pro abraço e ignorou solenemente a fireza daqueles braços.
Os lábios ávidos se encontraram, saciaram a saudade. A porta foi fechada com os pés e num segundo, ele carregou ela pra dentro.
Ela estava molhada e foi como um convite silencioso para suas roupas serem retiradas.
As mãos apressadas deixavam um rastro vermelho na tez alva de ambos e aquele misto de sentimentos culminou na cama.
Ela olhava penetrantemente nos olhos dele, tentando decifra-lo.
E a cada momento que se passava, ele se perdia cada vez mais naquele mar turbulento que estava a sua frente.


quarta-feira, 16 de março de 2011

TABACARIA

      Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
      Álvaro de Campos, 15-1-1928

    terça-feira, 15 de março de 2011

    Perfume Achado

    E me deparei com sua beleza
    Este seu lindo sorriso que
    completa com seus olhos de esmeralda
    Quero roubar a noite e te dar de presente
    Pois voce é toda preciosidade.

    Márcio Almeida

    quinta-feira, 10 de março de 2011

    Leprechaun.

    Um carinha baixinho e peludo certa vez me disse...
     " Desastrada, manhosa, insegura, essa tatuagem não foi feita para qualquer uma, meu amigo um conselho vou te dar, não adianta o caminho que escolher ele te levara sempre ao mesmo lugar sempre a mesma garota, meu colega essa é a guria da sua vida! "
    Agora mais do que nunca corro atras do que eu quero, sempre quiz sempre te amei e você sabe.
    Gizele Te amo!

    _____________________________________________________________
    Ally.

    Plundered My Soul

    Plundered My Soul Rolling Stones
    Can you believe it
    I've won no medals
    In this love game
    I've been resting on my laurels
    I'm a bad loser
    I'm a yard off my pace

    I smell rubber
    And I soon discover
    That you're gone for good
    My indiscretions
    Made a bad impression
    Guess I was misunderstood

    I thought you needed my lovin'
    But it's my heart that you stole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    (Plundered my soul)

    I started askin' around
    But your friends'
    Pretty lips were sealed
    I wrote a letter
    Full of trite confessions
    About wounds that heal

    I heard some gossip
    You'd become an alcoholic
    You were dryin' out
    So I phoned every clinic
    In the Yellow Pages
    Not a trace I found

    I thought you needed my lovin'
    But it's my heart that you stole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    (Plundered my soul)

    I hate quittin'
    But I'm close to admittin'
    I'm a sorry case
    But on quiet reflection
    My sad rejection's
    Not a total disgrace

    But I do miss your quick repartee
    And the smile
    That lights up your face
    You'll be a hard act to follow
    A bitter pill to swallow
    You'll be tough you'll be tough to replace

    I thought you wanted my lovin'
    But it's my heart that you stole
    You were a trick up my sleeve
    My ace in the hole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    Oh plundered my soul
    Oh yeah (plundered my soul)
    You plundered my soul
    Yeah yeah (plundered my soul)
    Oh yes yes yes you baby
    (Plundered my soul)


    http://www.vagalume.com.br/the-rolling-stones/plundered-my-soul.html#ixzz1GD8qfBEu

    Alto

    Ele estava tão alterado que não reconheceu o fogo queimando nos olhos dela. Ela sussurrou um "adeus" e partiu novamente, para pegar o avião. Ele, que estava jogado na poltrona, trajando apenas um jeans, ficou observando ela partir estalando o chão de madeira com os saltos de seus sapatos.
    Minutos após a saída, ele se levantou passando a mão na cabeça e se dirigia até o quarto. A cama ainda estava desarrumada e e o perfume dela ainda permanecia naquele recinto. De olhos fechados, ele foi para o banheiro com uma toalha nas costas. Como ele fazia isso com ele mesmo? Não era sofrimento demais para seu coração?
    Se despiu e deixou que a água quente escorresse da cabeça para as costas. Sentiu um pequeno ardor abaixo do ombro esquerdo e se lembrou das unhas dela. Unhas vermelhas afiadas, porém não muito compridas.
    Sorriu de lado e mergulhou nas lembranças de mais uma noite com ela.

    Ela estava com o coração partido quando saiu pela porta, mais uma vez. Aquele corredor de madeira, tão conhecido por ela, aquele barulho das rodinhas e o tic tic do salto batendo no assoalho.
    Partiu com lágrimas nos olhos. Secretamente, desejava que ele abrisse a porta, tomasse uma atitude e a tomasse pra ele. Mas sabia que ele não faria isso. Ele estava compenetrado demais se matando aos poucos e não percebia que estava carregando ela pro buraco denovo.
    Porque era tão difícil se desprender daquele amor? Ela o amava demais. Continuou o caminho, devagar.

    Ele sabia que era cada vez mais difícil ficar sem ela. Tudo lembrava sua amada, o cheiro de gengibre na fronha branca, os brincos de pérola que ela havia esquecido na cabeceira da cama ...
    Os dias que passava sem ela por perto acabavam com ele. Procurava saída em entorpecentes, a fim de aliviar a dor que carregava em seu peito.
    Se ele corresse, ainda daria tempo de chegar antes do avião partir. Se o avião não partisse, faria de tudo para que ela permanecesse mais um tempo com ele. Pelo menos tentaria!
    Colocou a calça e apanhou uma camiseta, pegou as chaves do carro e seguiu para o corredor. Tomaria uma atitude, a única coisa que fazia sentido pra ele nos últimos tempos estava partindo e algo dizia a ele que se ele não correce atrás agora, a perderia para sempre.

    Uma lágrima correu dos olhos pela buchecha. Rapidamente ela a limpou. Pra que criar esperanças? Já estava dentro do táxi e ele não iria atrás dela.
    Nunca percorreu o corredor tão devagar, na vã esperança de que ele abriria a porta, a tomaria nos braços e impediria de voltar para casa.
    O táxi estava para partir, o motorista estava trocando o pneu, que havia furado na porta do prédio dele.

    Ele vestiu a camiseta no elevador, e correu para a garagem. Deu partida no carro e esperou o portão abrir. Tinha algum idiota bloqueando a passagem, trocando um pneu. Businou, irritado. Não sabia que poderia estar perdendo o amor da sua vista, naquele exato momento?
    Saiu do carro, batendo a porta com força. Ia começar a discutir com o cara quando viu quem estava dentro do taxi. Deixo o motorista falando sozinho e foi até o táxi, abriu a porta.

    Ela se assustou com a porta se abrindo daquela forma. Olhou e ficou com com os olhos cheios de lágrimas.

    Ele não falou nada, colocou a mão no pescoço dela e aproximou os lábios dos dela.

    Se beijaram como da primeira vez. Lágrimas escorreram pelos olhos dela.

    -Vem! Não vá embora nunca mais. Nunca me deixe. - Pediu ele, olhando nos olhos dela. - Você é tudo que eu tenho !

    Folha de Papel

    Dobra-me,
    faça de mim um barco
    para navegar em seu olhar
    e naufragar.

    Dobra-me,
    faça de mim um tsuru
    para te trazer sorte
    e poder voar pra longe,
    pra perto de você.

    E no fim,
    desdobra-me.
    Amasse-me,
    assim eu volto ao nada
    que sou.

    Relacionamentos, 'Do amor'.

    “(...) Relacionamentos são laços invisíveis, quase sempre emaranhados e complicadíssimos. Claro, o principal ingrediente é “gente”(coisa complicada, naturalmente). Porque, como se sabe, nossa humanidade, desde a criação, já veio atrapalhada. Ora, se nem Eva nem Adão souberam dominar os próprios sentimentos, o que dizer de nós, meros herdeiros do mistério.
    Vacilamos: amamos demais, amamos de menos, amamos ao contrário, amamos pra dentro, amamos com raiva ou amamos sofrendo. Ou, melhor dizendo, amamos da maneira que sabemos (e podemos). Por isso, não raso, romances se acabam, amigos se separam, pais abandonam seus filhos e estes, em última instância, os culpam pelos seus próprios relacionamentos falidos.
    Ah, o amor (e seus percalços)!
    Quanta gente nunca soube dizer eu te amo, mesmo sentindo no peito a vontade esburrando; e quantos já não gastaram estas palavras mesmo quando por dentro não sentiam absolutamente nada.
    Certos ou errados, inteligentes ou atrapalhados, naturais ou esforçados, fortes ou fracos – somos quem somos e amamos da mesma forma que estiver ao nosso alcance.
    (...)
    Fato. Especialmente no quesito relacionamento, somos amadores, confusos, medrosos, culpados, exagerados e desordenados. Porque (não tem jeito): saber amar a si mesmo, o outro, ou nossos pais e amigos deveria ser fácil, mas na prática, acaba sendo um exercício – (que, não raro, demanda tempo, dedicação, compreensão, paciência, confiança e generosidade).
    (...)
    Mas, para evitar o esforço desnecessário, uma única simples verdade deveria sim ser ensinada na escola (e exercitada por todos – a todo custo e de qualquer maneira):
    - Amar é deixar que o outro seja [simplesmente, aquilo que ele é]. “
    {Trecho retirado da revista AG, da autoria de Maria Sanz Martins}

    quarta-feira, 9 de março de 2011

    Em Nome De Deus Sérgio Sampaio
    Eu nunca pensei que pudesse querer
    Alguma mulher como quero você
    Se o mago soubesse
    Juntasse o meu nome em S
    Ao seu nome em C
    Nas cartas de todo tarot que houver
    Em todo o I-Ching eu podia não crer
    Mas tudo é tão verde em seus olhos
    Não dá pra não ver

    Mas tudo é tão verde em seus olhos
    Você que se esconda, que eu vou procurar
    Você nem se iluda, que eu vou lhe encontrar
    Você pode ir e sair e sumir por aí
    Que não vai se ocultar
    Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
    Eu pego carona até no Challenger
    E vou nos anéis de Saturno buscar por você

    E vou nos anéis de Saturno
    Sem ser João Batista, você batizou
    Meu corpo na crista das ondas do mar
    E aí me abriu feito ostra
    E colheu minha pérola pra Yemanjá
    Agora que estou à mercê de sua luz
    Em nome das águas lá de Bom Jesus
    Em nome de Deus, me carregue
    Me pregue em sua cruz

    Em nome de Deus, me carregue

    http://www.vagalume.com.br/sergio-sampaio/em-nome-de-deus.html#ixzz1GA1iKKnG

    Cara ou Coroa

    Gostaria que nada na vida fosse relativo
    seria tudo preto no branco
    não haveria falsas esperanças
    ou falsos carismas
    Tá certo que num jogo de par ou ímpar
    você tem 50% de chances pra bom ou ruim
    mas pelo menos você vai saber o que esperar
    A relatividade me irrita
    as probabilidades me entristecem
    e nessa loucura toda,
    a única certeza que temos é que a vida é uma roda de moinho
    Nunca pára, nunca volta atrás.
    A gente vai conforme a maré,
    a gente aceita.

    e continua o caminho.

    un tango

    vamos a bailar un tango
    debaixo da chuva
    y el dolor de casi adiós
    disse: fique.

    Questão de ser

    A chuva caía lá fora e ensopava o chão de terra, criando várias poças de lama. Dentro da casa se ouvia o som alegre do riso dela, resultado das inúmeras cócegas que ele aplicava em suas costelas.
    'Eu te amo' disse ele, de repente, olhando-a nos olhos.
    'Eu sei, mas você não devia', respondeu, delicadamente, acariciando o rosto dele.
    'E eu continuo te amando.', retrucou ele. 'Vai fazer o que, ein?'
    'Você me ama por eu ser extremamente diferente de todas as outras, mocinho. Por eu ser aparentemente uma coisa e por dentro, ser outra por dentro já é um bom motivo... Mas principalmente por que você nunca me encontrará em outra garota.' disse ela, sorrindo com os olhos e se espreguiçando entre os braços dele.
    Por alguns segundos ele perdeu a fala, ficou só observando. Aquela pequena criatura tinha razão. E ele já havia tentado isso e não havia conseguido.
    Observou seu pescoço alongado, seus ossos da clavícula, suas pequenas pintas, sua pele branca que avermelhava pelo simples toque de suas mãos.
    'Você é uma criatura irritante, sabia?'
    'Faço questão de ser, especialmente pra algumas pessoas.' Completou ela, divertida.

    quinta-feira, 3 de março de 2011

    Sinto sua falta inegávelmente
    tal qual aquela página no caderno
    'je vous aime...'

    quarta-feira, 2 de março de 2011

    Roubado

    Ele esperava-a, encostado naquela velha árvore e portando um pequeno lírio na mão direita.
    Ela estava distraída ouvindo música e nem percebeu que ele estava lá.
    Oi, disse ele, tirando-a de seus devaneios.
    Ela sorriu em resposta, retirou os fones e olhou bem nos olhos dele. 'O que cê tá fazendo aqui?', perguntou ela, ainda sorrindo.
    'Queria falar com você, pedir desculpas...', começou ele, com os olhos tristes. 'Sinto sua falta'.
    Aquilo a atingiu. Ele sentia mesmo a sua falta ou sentia falta de estar com alguma pessoa?
    Ela pegou o lírio da mão dele, gostando e ignorando o fato dele ter provavelmente roubado aquela flor do canteiro da praça ao lado.
    Pegou no queixo dele com uma mão e marcou os lábios dele com o carmim do dela. 'Quando descobrir do que realmente sente falta, a gente conversa sério.'
    Ele ficou sem ação.
    Ela entrou no prédio e sorriu, cheirando o lírio.

    domingo, 27 de fevereiro de 2011

    provaremos as ilhas e o mar



    sei que em alguma noite
    em algum quarto
    logo
    meus dedos abrirão
    caminho
    através
    de cabelos limpos e
    macios


    canções como as que nenhuma rádio
    toca


    toda a tristeza, escarnecendo
    em correnteza.

    C. Bukowski

    sábado, 26 de fevereiro de 2011

    Carmim

    Pinta o lábio de carmim,
    deixa transparecer toda a tristeza
    nesse olhar sem-fim

    quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

    Ela não fez escândalos. Não era do seu feitio.
    Simplesmente se levantou da mesa, sorriu e colocou os óculos de sol. Ela não iria chorar na frente dele, era maldade demais.
    Ele a olhou, com os olhos tristes.
    Ela sorriu de novo. Fez um último carinho na cabeça dele. Tinha que sair dali o mais rápido possível. Não estava bem, mas já não havia mais o que fazer alí.
    Balbuciou um tchau baixinho, ele respondeu também. Ambos estavam sem vontade alguma. Mas era o que era certo, era o que deveriam fazer.
    Ele disse que sentirá falta dela.
    Ela disse que era pra ele não se sentir tão mal assim.
    Ele disse que tinha que ir, ela concordou...
    E foram andando para caminhos opostos.

    quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

    Desabafo

    ,já cansei daquela mesma velha rotina de ouvir você reclamar de tudo e todos,
    vê se me erra ou me esquece, já cansei de me sentir culpada por tudo,
    chega uma hora em que a bagagem pesa e você tem que descarregar,
    a dor massacra e você finge não notar, já deu pra perceber,
    finalmente vou usar minha voz, acho bom se acostumar,

    terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

    Turquia

    A garota corria, corria, alegre. Aquele país tão colorido, tão cheiroso estava lhe fazendo tão bem. Foi ótimo ter finalmente aceitado de vez fazer companhia para o amigo meio destrambelhado, deixar a pele ser curtida pelo sol daquele país tão vivo.
    Aquele cheiro maravilhoso de rosas misturada com condimentos, aquele povo todo narigudo falando alto deixou-a meio confusa e naquela correria, acabou se perdendo e trombando com uma pessoa.
    Caiu feito jaca madura, de bumbum no chão. Olhou para "o quê" tinha trombado e percebeu que era um "quem", na verdade.
    Olhou profundamente, aquela criatura lhe era familiar. Ele lhe sorriu.
    Segundos depois, recuperada a memória e a bunda da queda, levantou-se num pulo só e como uma cobra, deu o bote no pescoço da criatura, quase o sufocando. 'Hey, hey, desastrada', disse ele, ainda sorrindo, 'vê se não me mata'.
    'Idiota', ela disse, em lágrimas. 'Senti sua falta'.
    Ela ouviu um grito, seu amigo destrambelhado a procurava. Ela acenou para ele e naquela mesma hora, a criatura fechou a cara. 'Seu namorado a espera. Tchau'.
    'Hey, pára com isso!' Ela gritou, mas sabia. Ela era bem craque em olhares de despedida... e aquele claramente era um. 'Adeus', sussurou.

    segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

    invade minha vida, meu apartamento
    me liga às dez, às onze,
    te faço um carinho
    daqueles de perder o ponto.
    Te coloco contra o peito,
    te acalmo.
    Te dou um beijo, digo que vou
    Fujo de casa, brigo com a ruiva
    Tudo pra não te ver com aqueles olhos tristes.

    sábado, 19 de fevereiro de 2011

    abraço reconfortante

    fale-me do amor, com sal e pimenta
    que a vida é curta, qualquer dia ela acaba
    feito arroz mexicano e cachaça bem brasileira,
    que todos juntos fizemos.

    pele colada pela água e suor
    avermelhada pelo sol
    e por cositas más

    na boca o gosto azedo do limão,
    quente da cana e amargo da cevada.
    dia fantásticamente mágico,
    apesar do final meio trágico.


    quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

    Fale-me do amor

    - Acho que nunca me apaixonei de verdade - Respondeu a garota, compenetrada em devorar aquela torta de morangos com chocolate.
    - Nunca? Como assim? - Perguntou ele, curioso. Isso realmente era diferente, vindo dela.
    - Digo... gostar de alguém sim, mas... Se apaixonar de verdade, achar que a pessoa é a melhor coisa do mundo, essas coisas... bem. Nunca aconteceu.
    - E os outros? - Ele tomou um gole do café.
    - Me encantei por muitos, isso sempre acontece. Mas o encanto passa e o sentimento não. Queria amar alguma vez, pra ver de verdade isso que leio e escuto tanto. Queria fazer loucuras por amor e essas coisas.
    - Talvez só não seja a sua hora ainda, loira. Quem sabe isso acontece mais cedo do que você pensa?
    - Esse que é o problema... Tenho medo do que pode acontecer.
    - Se fosse fácil, não teria graça.
    Ela sorriu, abaixou a cabeça. Ele sorriu e pegou na não dela.

    segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

    vem pra cá, chuchu,
    me coloca na cama
    me faz um cafuné
    e diz que tudo vai ficar bem.

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    Grandfather

    eu vejo a lua da minha janela e escuto o barulho do mar vindo da concha que está rachada no cantinho esquerdo mas nem por isso deixa de ser bonita e cor de rosa e me faz lembrar daquele pôr do sol que passei em sua companhia num dia quente de março naquele velho porto enquanto olhávamos nós dois 'praquelas verdes águas daquele velho rio que cortava aquela cidade que não me trás boas recordações pessoais e só vale mesmo a pena me lembrar é daqueles olhos azuis tão vivos que nunca mais verei e nem soube mesmo valorizar e agora choro sentindo sua falta.

    The Subways

    With You The Subways
    I live my life walking down this street
    I meet the faces of the people I see
    All the time I see your reflection
    All the time I see your reflection
    It's okay to feel alone
    It's okay to be alone
    All the time I see your reflection
    All the time I see your reflection

    Cause when I'm with you
    It seems so easy
    It seems so easy
    My best days are with you
    They are so easy
    They are so easy

    Yeah, I don't like giving up
    Cause giving up is easy
    And I'll see you again
    Just tell me where you'll meet me

    When I'm with you
    It seems so easy
    It seems so easy
    My best days are with you
    They are so easy
    They are so easy, yeah!

    When I'm with you
    It seems so easy
    It seems so easy
    My best days are with you
    They are so easy
    They are so easy, yeah!




    ___________________________________
    vale a pena ouvir, gostei demais de ter conhecido!

    domingo, 13 de fevereiro de 2011

    508 na praia e vira duas ruas depois da ponte

    Venha logo, mas traga a cerveja
    que a canela quente nos espera
    e a noite não é tão amiga.

    ________________________
    boa noite.

    Pra vida

    E eu estava alí,
    debaixo da parreira de uvas verdes bem azedas,
    admirando o pôr do sol dourado
    e pensando na vida,
    quando a realidade me tocou na face
    e me disse "bom dia,
    ora de acordar".

    sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

    Lavanderia

    "Estou com vontade de dançar" disse ela, suavemente. E suavemente se desfez do colo e se embalou na música imaginária que ouvia.
    Ela rodopiou e ele continuou encarando aquela criatura que a cada dia que passava lhe deixava mais confuso.
    "Vem?" Perguntou pedindo pelo olhar. Como negar aqueles doces olhos cor de chocolate? Tropeçou nos próprios pés, tramou uma dança e sorriu envergonhado. Ela seguiu se embalando e sendo iluminada pelo sol.
    Segundos depois já trocavam mais carícias no chão da lavanderia, rodeados pelas roupas limpas, usadas e as que vestiam minutos atrás.
    "Now... you say you love me" Sussurrou ela, como Julie. E sem maiores explicações se virou de lado e fechou os olhos, sorrindo, enquanto ele enlaçava a sua cintura e respirava em seu pescoço.
    sorriso com zê faz chorar com xis

    quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

    999

    "Uma mentira dita 1000 vezes se torna verdade."
    Então só faltam 999, Alface.
    Eu não gosto de você...

    quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

    Nadar

    Já era sábado e ambos já haviam bebido tudo que tinham direito, mas mesmo assim conseguiam articular as idéias de forma quase racional. Já estavam jogando aquele jogo besta a algumas horas e a medida que bebiam se soltavam mais.
    - Te desafio a virar o resto da garrafa, num gole só. - Ela disse, estreitando os olhos e estendendo a garrafa.
    - Tem certeza? Vamos acabar ficando sem nada mais. - Brincou ele. Ela revirou os olhos e bufou.
    Ele riu. Bebeu tudo.
    Uma gota caiu e escorreu pela testa dele. Ela estava quase deitada numa pedra.
    - O que você gostaria de fazer agora? - Perguntou ele, olhando-a.
    - Nadar. - E depois soltou uma gargalhada. Ele riu também, levantou e estendeu a mão para ela, a fim de levanta-la. - O que? Vamos pra onde?
    - Cala a boca, vem logo.
    Sairam andando até chegar a praia.
    - O que estamos fazendo aqui? - Perguntou ela, algo assustada.
    - Te desafio a nadar. Comigo. Agora.
    - O quê? Tá doido? Nada disso, e no mais, vai estar gelada. Sem contar que eu pretendo chegar seca em casa.
    - Eu te desafio. E você não pode correr dos desafios, lembra? Vamos logo, tagarela.
    - Mas... - Ela tentou articular uma boa resposta, mas a bebia não ajudava. Bem, ela também não era muito boa em inventar desculpas.
    - É melhor você tirar a roupa logo, antes que eu te leve pra água de roupa e tudo.
    Ela revirou os olhos e começou a se despir, de costas pra ele.
    - Dá pra você pelo menos fingir que não vai olhar? - Reclamou ela.
    Ele colocou a mão nos olhos e ela entrou na água, tremendo de frio.
    - Odeio essa água gelada! - Reclamou ela, prendendo os cabelo para cima, no intuito de não molha-los.
    Ele a abraçou.
    - Assim fica menos frio? - Brincou ele, notando que ela havia ficado mais desconcertada.
    "Péssima hora pra esse álcool deixar de fazer efeito", pensou ela.
    Outra gota resolveu cair. E mais uma, e mais outra. De repente, uma chuva torrencial resolveu cair e a água ficar algo mais morna.
    - Agora não tem mais motivos de você não querer molhar essa cabeleira, tá chovendo. Mergulha logo, vai. Sua chata.
    - Você me paga por mais essa...
    - Com o maior prazer, bobona.

    sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

    "As vezes acho que você nem quer fazer realmente aquilo que diz que quer fazer, as vezes acho que fala que quer somente pra me deixar feliz. Sei que você deve odiar quando duvidem de você ou da sua capacidade de fazer algo, mas também acho que se talvez eu te desafiar você sairá logo deste casulo." Ele me senta de lado e olha nos meus olhos. Tudo que tento passar pra ele, num olhar, parece não adiantar. Não estou acostumada a ser desejada ou coisa parecida, pra mim ainda é tudo muito novo. Eu queria, eu quero, mas estou apavorada. Bem, eu sou apavorada, eu sou medrosa.

    segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

    espelho

    Quero te abraçar
    olhar bem de perto
    ver todos os verdes azuis amarelos dos seus olhos
    contar cada sarda clarinha
    e tocar meu nariz arrebitado no seu.
    Enlaçar meus dedos nos seus cachos
    que você insiste em alisa-los
    Apertar cada nó de seus dedos
    sentir seu coração batendo
    tum tum... tum tum
    igual ao meu
    Entender cada canto da sua confusa mente
    sorrir do seu sorriso torto
    andar de braços dados
    brincar com suas pintas
    e cutucar suas minhas costelas
    eu você você sou eu

    sábado, 22 de janeiro de 2011

    Chico

    "O meu coração, meu coração
    Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
    Me leve a sério
    Passou este verão
    Outros passarão
    Eu passo"


    sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

    Ressaca

    - Eu só não sei o por que dele ter escolhido justamente aquela situação pra me dizer aquilo. Agora eu nem sei se ele se lembra, se foi verdadeiro, se foi instinto, se foi... bem, por culpa da cachaça. Pff! É como eu já te disse, odeio esse joguinho de não saber quando devo leva-lo a sério...
    - Ah, você sabe como somos... E eu já te disse que ele não está nessa de 'compromisso' no momento. E nem sempre dizer isso e assumir isso significam a mesma coisa. Não sofra por isso.
    - Eu sei disso tudo e eu não estou sofrendo... Mas você me conhece, você sabe que isso me... como posso dizer... mexeu comigo. Por que você sabe de tudo, desde o começo. E, bem, ontem eu até contei mais um pouco. Só queria saber se era verdade, entende?
    - Eu entendo...
    - Devo perguntar pra ele se ele se lembra de alguma coisa?
    - Olha, se você está perturbada com isso, te aconselho a não fazer isso. Mas se você está bem com isso, tranquila mesmo, então... pergunta.
    - Ok, perguntarei... afinal, estou curiosa. Mas não estou levando muito a sério, afinal ele estava mais bêbado que qualquer outra coisa. Mas até que seria bacana se fosse verdade. Nada de cobranças, saca?
    - Hum, então... pergunta.
    - Cara, como eu gosto de problemas, né? AHSUAHUS
    - EU SEI BEM DISSO, MOCINHA. Hehe. Mas acho que você tem que pensar mais em você e não nos outros.
    - Eu sei. Isso que dá me dizer uma coisa daquelas, agora estou muito confusa... Eu nem respondi nada na hora e bem, até que foi bom, por que vai que nem é "verdade"? Tenho que saber a verdade logo, antes que eu pire. Pff! O que um "eu te amo" faz com a cabeça de uma pessoa como eu

    _________________________________________________
    Colaboração do fiel amigo Luc, de ressaca (moral e não) HAUSHAUHS

    terça-feira, 11 de janeiro de 2011

    Trinta e Um

    Ele circulou a pintinha vermelha abaixo do seio esquerdo dela. Perguntou, fitando os olhos iluminados pela luz que vinha da janela que rangia:
    -Quando se tornou tão fria? Digo, quando resolveu que o amor já não valia a pena?
    Ela sorriu, deitou de bruços e fez um carinho nos cabelos dele. Respondeu após um suspiro.
    -Não é que o amor não vale a pena, mas é que eu já me decepcionei muito. Mas, respondendo a sua pergunta, não sei ao certo, mas deve ter sido entre o momento que ele me perguntou qual era meu filme romântico preferido pra depois assistir com ela.
    -Que triste..
    -Sim, não consigo mais assistir àquele filme. Pff...- Ela se levanta e ele pega a câmera, e estranha o fato dela não reclamar após os primeiros cliques.
    Ela fica de costas, meio de lado e prende os cabelos.
    -Gosto dos seus ossinhos. -Ele diz, sorrindo.
    Ela sorri também, vira o rosto, mas seu sorriso não chegou aos olhos. Seus olhos diziam outras coisas, que não valiam mais a pena seus lábios proferirem.
    -Vamos sair? Quero caminhar. -Ela pede e antes mesmo dele responder, já se veste.
    Vão caminhando lado a lado, rua abaixo. O sol entediadamente, desce devagar, dando lugar a uma lua tímida que sorria.
    Se dirigiram a um pequeno café, talvez por falta de opção ou por pura preguiça de continuarem a procura de outro lugar.
    Se sentaram e enquanto esperavam pelo capuccino, ela o olhou somente por alguns segundos - o que, para ela, parecia ter durado horas - e saiu da mesa, sem maiores explicações.
    Entrou no banheiro, encostou a cabeça na porta.
    -Está tudo bem? -Uma moça gentil a perguntou. Ela simplesmente balançou a cabeça, afirmando.
    Algumas gotas escorreram. Respirou fundo. Se acalmou. Secou e voltou a mesa.
    -Aconteceu alguma coisa? -Ele perguntou, olhando-a interrogativo.
    -Não é nada. -Bebeu um gole do capuccino e o temperou com açúcar mascavo e canela.
    Ocuparam o tempo dos capuccinos e da torta de chocolate que dividiram conversando sobre nada e tudo ao mesmo tempo.
    -Obrigada.
    Ele olha para ela e tenta entender. Os olhos dela faziam horas passar como segundos segundos como eras.-Obrigada por me fazer sentir bem. Mesmo que uma última vez.
    Ele olha para ela com cara de desconfiado e diz displicentemente:
    -Que é? Não vai me dizer que vai morrer até o dia acabar...
    Ela sorri e toma mais um gole do capuccino. Samba o líquido dentro da caneca, tendo lapsos de reflexão. Vira os olhos para ele e pergunta:
    - O que é eternidade?
    O rapaz gargalha e aponta para a caneca dela, perguntando inverbalmente se ela quer mais um capuccino. Ela agradece mas recusa. Teima e repete:
    - O que é eternidade?
    Ele se levanta da cadeira, anda até a janela mais próxima, gargalha mais uma vez e diz de um jeito preguiço:
    - Acho que sua pergunta está errada... Acho que o que você deveria perguntar é se realmente vale a pena a eternidade e ainda mais, com quem você quer passa-la.
    Ela toma o último gole do capuccino, levanta-se da cadeira, troca os pés, ensaia uns tropeços, volta para o banheiro. Ele está lá, no mesmo lugar, contemplando o espaço infinito além da janela. Dentro do banheiro ela lava o rosto, apalpa os cabelos desgrenhados, tenta não olhar para os próprios olhos, tenta não encarar a realidade, sua própria vontade.
    - Moça? Olá? Está tudo bem mesmo? - Brada a mesma atendente de antes cuja preocupação era mais automática do que sincera, mas ela não estava preparada para isso, ainda não tinha aterrissado.
    A porta abre e ela sai com um sorriso de soslaio estampando na face. Suas bochechas estão mais vermelhas do que o normal, ela estava quente por dentro e por fora. Correu a procura dele, mas ele não estava mais lá. Vagou o olhar sobre cada canto do recinto, mas não havia mais ninguém lá.
    Se dirigiu a mesa que já não possuia mais o mesmo brilho. Ele sabia que algo estava errado, mas não perguntaria. Preferiu olhar para as garotas da mesa ao lado quando ela proferiu algumas palavras.
    Respondeu, ainda sem olhar nos olhos dela um singelo "então vá", sem se dar conta do que aquelas palavras fariam com ela.
    Ela saiu calada, da mesma forma que entrou. Caminhou tropeçando nas dores em busca de alento.
    Sentiu uma pequena pressão no pulso direito, naquela marquinha que insistia em relembra-la do passado e um sussurro na nuca "stay with me, Eleanor..."

    segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

    Sorri por demais

    Coração empenado
    encravado em meu peito
    contra a vontade que me fez lutar
    bravamente suportar
    a ira de cada emoção
    Coração querido
    tome o seu devido lugar
    esqueça que eu existo
    não quero sentir o que você sente
    eu quero fugir bem de repente
    Coração fulmegante
    incediando meu espírito
    afogando tudo que eu acredito
    para ter uma última esperança
    que essa é sempre a última a me deixar
    Não sei querer
    nem me fazer entender
    deixei de amar muito tempo atrás
    morri para muitos
    sorri por demais

    ----------------------------------------
    Valeu, D.
    Sabe o quanto te amo, né?

    quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

    SIM

    Nunca gostei das coisas mornas,
    coisas cinzas,
    coisas
    sim
    ple
    s

    Mas agora,
    o sol morno, as nuvens cinzas
    e uma simples tarde,
    me fazem sorrir
    sempre.


    Sonhei com você noite passada.
    Sonhei com a Ella cantando baixinho no som, e com aquela chuva batendo na janela.
    Sonhei com aquele chão frio, tão frio quanto seu olhar.
    Sonhei que você já não estava mais tão vivo assim. (afinal, está você?)
    Sonhei com aquelas preguices que falávamos, com aquelas que nem eu sabia ao certo se sentia.
    Agora sei o que não sentia.
    Agora sinto.
    Sinto muito, por aquilo.