quinta-feira, 30 de junho de 2011

Novo

- Estar realmente bem ou não não faz mais grande diferença. O que acontece é que você sempre tem que estar bem, independente do que lhe acontece. É uma lei natural, as pessoas na realidade não querem saber como você se sente, querem sempre ter algo de bom pra sugar de você.
Ela suspirou se tragou o cigarro. Apoiou os cotovelos nos joelhos cobertos por um jeans surrado. Soltou a fumaça pelas narinas.
Ele apenas se recostou no banco, cruzou os braços e finalmente proferiu as palavras:
- Poxa, não conhecia esse seu lado depressivo. - E forçou um sorriso.
Ela conhecia seus sorrisos forçados. Foi o estopim.
- Não é o meu lado depressivo. É o meu lado humano, que, diga-se de passagem, permaneceu calado por tempo demais.
Ela se sufocava com suas próprias palavras e angústia. Soluçava suas lágrimas e o que ele fazia era observar.
Nunca a vira tão humana, tão triste, tão diferente.
Tentou puxa-la para um abraço, ela o empurrou. Continuou forçando um abraço enquanto ouvia os soluços das primeiras lágrimas que via rolar dos olhos dela.
Era diferente, ela novo, era confuso.
E ele não sabia como agir.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tédio

- Estou entediada. Estou cansada. Estou com saudades. Estou aqui embaixo. -Ela falou naquele aparelho brilhante.
- Suba. - Ele falou.
Ele a recebeu com a boca úmida e de braços abertos. Ela não quis saber de carinho, foi ávida nos lábios e logo estavam na parede. Os sapatos foram arrancados e a porta, trancada.
Ela o empurrou para o sofá de couro marrom escuro da sala de estar, fracamente iluminada pelos raios de sol que teimavam em escapar das nuvens daquela tarde friazinha de quase-inverno.
Ele trajava apenas uma toalha, estava saindo do banho quando recebeu o telefonema-telegrama e nem se preocupou em se arrumar. Não importava, nunca importou nem nunca se importará.
Ela se afastou dele e ele logo percebeu que ela iria repetir a dose daquela noite, só que dessa vez sem a embriaguez canelítica. Ela tranqüilamente abriu botão por botão da camisa, mostrando a tez clara com alguns avermelhados tão típicos dela. O sutiã era vermelho, constatou ele quando a camisa foi jogada em algum lugar.
Ela abriu a calça jeans revelando o conjunto do sutiã
- Continuo achando sua virilha linda - Comentou ele
- Pff.
A calça sumiu e de costas, ela retirou o sutiã que já estava com as alças caídas. A iluminação amarelada do pôr do sol combinava com ela.
Ainda de calcinha, ela se sentou no colo dele, o beijando.
As mãos dele foram direto para a bunda dela, e retirou a calcinha beijando seu colo.
Arfaram. Preencheram-se.
Encontram-se.

Ela se jogou na cama dele. De cabeça pra baixo, o observou observando-a.
Ele nem sabia se ela estava mesmo ali. A amava. Não era um relacionamento normal, mas funcionava bem dessa forma. A amava como pessoa.
- Sabe por que eu nunca disse que te amava? -Falou ela, de repente, interrompendo os pensamentos dele.
- Por que?
- Porque assim fica menos complicado para mim. Assim que eu falo isso, minha vida vira de cabeça para baixo.
Ele olhou para seus seios virados para cima e, olhando nos olhos dela, respondeu:
- Já não está virada?
Ela o ignorou solenemente, como se não precisasse dele e sim, de falar.
- Não que eu não sinta isso. Mas com você é diferente. O encanto geralmente acaba logo, mas com você ele não acabou... já que nunca existiu. Parece que é algo maior, mas eu não quero saber o que é, nem quero modificar o que temos.
Antes que ela retomasse a torrente de palavras, ele a calou com mais alguns beijos e a tomou nos braços.
Enquanto chovia, se entregavam um ao outro sem pudor.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Minhas Bonecas

Eu estava lá, observando calmamente. Isso era uma coisa rara, eu observar. Eu sou uma pessoa de tato, de agir, não de observar. Observava os fios loiros entrelaçando nos ruivos, da mesma forma em que os dedos se entrelaçavam. Os dedos longos se tocavam e as unhas compridas roçavam gentilmente a pele das mãos.

Os corpos se uniam de forma harmônica, tal qual uma dança. O som das batidas do coração embalavam um tango argentino. Afinal, tango era a nossa música, cheio de idas e vindas, percalços e reencontros e despedidas.
A pele branca se avermelhava, ora pelos toques, ora por estar sendo observada, ora por perceber o que estava fazendo. A boca vermelha era beijada por outra tão vermelha quanto, com pequenas mordiscadas. Vermelho era a cor dela.

As mãos ágeis e ansiosas percorriam os corpos, num reconhecimento tatil. Os mamilos rosados se encostavam, elas se arrepiavam. E eu, só fotografava com minhas retinas.

A loira era ousada, possessiva. Era forte, sabia o que queria, era decidida. A ruiva gostava das sardas dela.
A ruiva era tímida, tranqüila, fraca. Facilmente manobrada. A loira gostava dos olhos dela.
Eu gostava da bunda da ruiva e dos peitos da loira. Elas se completavam como uma mistura exótica de canela e maçã verde. Tinha que admitir que gostava muito daquilo, daquele entrosamento tão síncrono das duas.

Sorvi mais um gole da minha cerveja, passei a mão pela cabeça, arrumei os cabelos. Sorri para elas e ganhei dois sorrisos de volta. Faziam caras e bocas, as minhas bonecas. Se divertiam no seu joguinho de sedução.
Ouvia um gemido vez ou outra, se encaixando perfeitamente no tango da batida dos corações e observava o sorriso que o som fazia brotar no rosto da outra.

Se abraçaram e se aninharam uma perto da outra, adormecendo. Eu simplesmente levantei e as cobri. Dei um ultimo sorriso e saí do quarto, deixando-as dormindo um sono tranquilo.









Fim.
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Presente pro sr. João :D


terça-feira, 26 de abril de 2011

Diz um sim

Olhos da cor que só ela tem
unhas nos dentes tortos,
um sorriso malemolente.
Me diga, amas a mim?

A ruiva tem razão,
oras, todos tem.
E afinal, que mal tem?
Nada mudaria...

Finge um pouco,
dá um sorriso,
diz um sim.

Deito a cabeça no pescoço,
coração acelerado.
"é a posição"

Escuro,
brilho,
beijo.

domingo, 27 de março de 2011

La Rousse III

Ela encarava ele, encarava seus olhos verdes. Aqueles malditos olhos verdes indecifráveis.
Tomou mais uma dose. A cabeça rodava e ela já não enxergava somente aquele ser de olhos verdes. Encarava todos os seus problemas num conjunto.
O senhor-olhos-verdes a beijou. A mente dizia pra ela parar, o coração, pra se deixar levar.
Ela seguiu o coração, mas a mente era mais forte. 'Quem ele pensa que é, pra me virar a cabeça desta forma?'
Ela o empurrou para a parede. Ele a olhou com desejo. Ela sentia o mesmo.
Era um misto de amor e ódio. Não, amor não. Não era amor, era atração. E também não era ódio. Era só raiva. Raiva de se deixar ser usada daquela maneira. De se deixar levar pelo momento, pela atração.
Aquela brincadeira de gato e rato ela sabia aonde ia dar. Aquela coisa de sempre, a mesma desculpa de cada dia. E sempre aquele mesmo vazio que lhe acompanhava.
E não era somente com o senhor-olhos-verdes, era com todos. Ela se deixava ser manipulada sempre, com medo de se tornar sozinha.
Mas a solidão sempre chega, independente da quantidade de pessoas que a rodeiam.
E mais uma vez, ela se deixou levar. 'Será a última', mas ela sabia que não era. Nunca era.

La Rousse II

A ruiva estava sentada no banco perto da janela. Vestia uma regata branca e uma calcinha, e mais nada. Acariciava a cabeça de Toulouse enquanto olhava e não via o pôr-do-sol. Estava tentando se isolar.
O sol beijava sua face delicadamente. A maquiagem estava borrada, mas não se importava. Os olhos já estavam secos, ela já estava seca por dentro.
Pernas pararam perto dela, falaram algo. Ela não ouviu, não se importou. Ouviu o baque surdo da porta que tremeu o vidro da janela em que ela se encostava.
Gotas batiam no vidro. A noite já havia chegado e a chuva que estava teimando em não cair durante todo o dia, resolveu mostrar toda a sua força naquela hora.
Um raio cortou o céu e Toulouse saiu correndo do aconchego perto das pernas de sua dona, miando.
Ela deu um sorriso fraco, a tempestade a acalmava.
As luzes se apagaram, de repente. Mais um raio cortou o céu e iluminou o livro que lia. Um grande amigo deu a ela aquele livro, dizendo que ela precisava mais do que ele daquelas palavras.
Ela já tinha lido e re-lido todas aquelas palavras. E sempre compreendeu todas.
Sabia o que significava cada coisa. Mas saber o significado e fazer mudar a situação era bem complicado.
O celular vibrou, ela não atendeu.
E o vazio só crescia...
Ela sentia falta de algo que ela sabia que não valia a pena.

sábado, 26 de março de 2011

La Rousse

A ruiva estava deitada na cama pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo.
'Preciso de férias de mim mesma', pensou ela, farta de toda bagunça na sua vida
Se realmente fizesse um balanço na sua vida. teria medo de ver o resultado final.
Levantou-se, caminhou ao banheiro. As marcas vermelhas da noite anterior ainda estavam em suas costas e o gosto do alcool, presente em sua boca. Bagunçou mais um pouco os cabelos, que lhe cobriam os seios e roçavam gentilmente suas costelas.
Continuou andando despida pela casa vazia, se serviu de uma porção de chocolates.
Ligou o som e a voz rouca de Ray Charles invadiu o apartamento. Ignorou as cortinas abertas e se banhou de sol sem se importar com  a possível visão de algum vizinho.
Odiava aquela sensação de vazio dentro do peito, aquela dor de vinha do nada, ao mesmo tempo próxima e distante.
A falta de conhecimento do querer a deixava insegura. Por mais que tentava aparentar que nada a deixava para baixo ou que não se importava com opniões alheias, toda aquela situação a chateava.
Contornou os lábios com a mão. Se encarou no espelho. Lá, naquele lugar sagrado, ela estava sem nenhuma armadura, nenhuma máscara, nenhuma maquiagem.
Era o tempo de uma descoberta. Tocou a imagem refletida no espelho. Toulouse roçou suas pernas. Ela se abaixou e fez um carinho no gato da cor da noite.
Ligou a água que caía dentro da banheira e se deixou mergulhar nas suas emoções.
Sentiu as carícias nas costas. Não proferiu nenhuma palavra. Os arranhões arderam e sentiu um puxão nos cabelos da nuca, forçando a cabeça para a direita.
Ela encarou aqueles olhos indecifráveis. Mordeu o lábio. Com a mão molhada, traçou aquele rosto e quebrou o contato visual.
Os cabelos foram puxados com mais força desta vez e o encontro dos lábios foi inevitável. Os olhos indecifráveis sorriu entre o beijo e a ruiva o puxou para dentro d'água pelo braço.
Ele a sentou sobre si com uma facilidade incrivel e mordeu seu pescoço, ainda agarrando os fios.
Pele em contato com pele. Nenhuma palavra proferida, apenas murmuros.
Encaixaram-se. Ela fincou as unhas no ombro dele. Se beijavam, se encaravam. Tentavam se traduzir, cada um no olhar.
A ruiva deixou uma lágrima escapar.
Ele sorriu.