domingo, 27 de março de 2011

La Rousse III

Ela encarava ele, encarava seus olhos verdes. Aqueles malditos olhos verdes indecifráveis.
Tomou mais uma dose. A cabeça rodava e ela já não enxergava somente aquele ser de olhos verdes. Encarava todos os seus problemas num conjunto.
O senhor-olhos-verdes a beijou. A mente dizia pra ela parar, o coração, pra se deixar levar.
Ela seguiu o coração, mas a mente era mais forte. 'Quem ele pensa que é, pra me virar a cabeça desta forma?'
Ela o empurrou para a parede. Ele a olhou com desejo. Ela sentia o mesmo.
Era um misto de amor e ódio. Não, amor não. Não era amor, era atração. E também não era ódio. Era só raiva. Raiva de se deixar ser usada daquela maneira. De se deixar levar pelo momento, pela atração.
Aquela brincadeira de gato e rato ela sabia aonde ia dar. Aquela coisa de sempre, a mesma desculpa de cada dia. E sempre aquele mesmo vazio que lhe acompanhava.
E não era somente com o senhor-olhos-verdes, era com todos. Ela se deixava ser manipulada sempre, com medo de se tornar sozinha.
Mas a solidão sempre chega, independente da quantidade de pessoas que a rodeiam.
E mais uma vez, ela se deixou levar. 'Será a última', mas ela sabia que não era. Nunca era.

La Rousse II

A ruiva estava sentada no banco perto da janela. Vestia uma regata branca e uma calcinha, e mais nada. Acariciava a cabeça de Toulouse enquanto olhava e não via o pôr-do-sol. Estava tentando se isolar.
O sol beijava sua face delicadamente. A maquiagem estava borrada, mas não se importava. Os olhos já estavam secos, ela já estava seca por dentro.
Pernas pararam perto dela, falaram algo. Ela não ouviu, não se importou. Ouviu o baque surdo da porta que tremeu o vidro da janela em que ela se encostava.
Gotas batiam no vidro. A noite já havia chegado e a chuva que estava teimando em não cair durante todo o dia, resolveu mostrar toda a sua força naquela hora.
Um raio cortou o céu e Toulouse saiu correndo do aconchego perto das pernas de sua dona, miando.
Ela deu um sorriso fraco, a tempestade a acalmava.
As luzes se apagaram, de repente. Mais um raio cortou o céu e iluminou o livro que lia. Um grande amigo deu a ela aquele livro, dizendo que ela precisava mais do que ele daquelas palavras.
Ela já tinha lido e re-lido todas aquelas palavras. E sempre compreendeu todas.
Sabia o que significava cada coisa. Mas saber o significado e fazer mudar a situação era bem complicado.
O celular vibrou, ela não atendeu.
E o vazio só crescia...
Ela sentia falta de algo que ela sabia que não valia a pena.

sábado, 26 de março de 2011

La Rousse

A ruiva estava deitada na cama pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo.
'Preciso de férias de mim mesma', pensou ela, farta de toda bagunça na sua vida
Se realmente fizesse um balanço na sua vida. teria medo de ver o resultado final.
Levantou-se, caminhou ao banheiro. As marcas vermelhas da noite anterior ainda estavam em suas costas e o gosto do alcool, presente em sua boca. Bagunçou mais um pouco os cabelos, que lhe cobriam os seios e roçavam gentilmente suas costelas.
Continuou andando despida pela casa vazia, se serviu de uma porção de chocolates.
Ligou o som e a voz rouca de Ray Charles invadiu o apartamento. Ignorou as cortinas abertas e se banhou de sol sem se importar com  a possível visão de algum vizinho.
Odiava aquela sensação de vazio dentro do peito, aquela dor de vinha do nada, ao mesmo tempo próxima e distante.
A falta de conhecimento do querer a deixava insegura. Por mais que tentava aparentar que nada a deixava para baixo ou que não se importava com opniões alheias, toda aquela situação a chateava.
Contornou os lábios com a mão. Se encarou no espelho. Lá, naquele lugar sagrado, ela estava sem nenhuma armadura, nenhuma máscara, nenhuma maquiagem.
Era o tempo de uma descoberta. Tocou a imagem refletida no espelho. Toulouse roçou suas pernas. Ela se abaixou e fez um carinho no gato da cor da noite.
Ligou a água que caía dentro da banheira e se deixou mergulhar nas suas emoções.
Sentiu as carícias nas costas. Não proferiu nenhuma palavra. Os arranhões arderam e sentiu um puxão nos cabelos da nuca, forçando a cabeça para a direita.
Ela encarou aqueles olhos indecifráveis. Mordeu o lábio. Com a mão molhada, traçou aquele rosto e quebrou o contato visual.
Os cabelos foram puxados com mais força desta vez e o encontro dos lábios foi inevitável. Os olhos indecifráveis sorriu entre o beijo e a ruiva o puxou para dentro d'água pelo braço.
Ele a sentou sobre si com uma facilidade incrivel e mordeu seu pescoço, ainda agarrando os fios.
Pele em contato com pele. Nenhuma palavra proferida, apenas murmuros.
Encaixaram-se. Ela fincou as unhas no ombro dele. Se beijavam, se encaravam. Tentavam se traduzir, cada um no olhar.
A ruiva deixou uma lágrima escapar.
Ele sorriu.

Mar

23:45
Estava chovendo pra caramba.
Fazia quase um mês que ela não dava notícias. Ele estava preocupado, será que ela resolvera realmente esquecer dele? Não... ela não faria isso, faria?
Acendeu um cigarro. Estava fazendo frio. Estava pensando nela, de novo. Em como ela se irritava com o vento frio cortando sua pele, ou a umidade estragando seu cabelo.
Se jogou na cama e viu na estante aquela caixinha da cor dos olhos dela. Se lembrou da conversa que tiveram sobre anéis, compromisso e presentes. Segundo ela, era babaquice demais usar uma aliança de compromisso, mas ficaria caidinha se um cara lhe desse de presente um anel pra ela. 'Inconstante', pensou ele, lembrando dela.
Já se passava da meia noite e meia, e ele na mesma posição.
Estava esperando ele algum sinal? A campainha tocou e ele nem se mexeu. Ouviu batidas na porta, levantou.
'Você?' Ele perguntou, amargado. Notou o cabelo dela, estava diferente,.
'Surpreso?', desdenhou ela, com aqueles dentes brancos. 'Eu disse que viria. Você que não acreditou.'
Ela não esperou convite pro abraço e ignorou solenemente a fireza daqueles braços.
Os lábios ávidos se encontraram, saciaram a saudade. A porta foi fechada com os pés e num segundo, ele carregou ela pra dentro.
Ela estava molhada e foi como um convite silencioso para suas roupas serem retiradas.
As mãos apressadas deixavam um rastro vermelho na tez alva de ambos e aquele misto de sentimentos culminou na cama.
Ela olhava penetrantemente nos olhos dele, tentando decifra-lo.
E a cada momento que se passava, ele se perdia cada vez mais naquele mar turbulento que estava a sua frente.


quarta-feira, 16 de março de 2011

TABACARIA

      Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
      Álvaro de Campos, 15-1-1928

    terça-feira, 15 de março de 2011

    Perfume Achado

    E me deparei com sua beleza
    Este seu lindo sorriso que
    completa com seus olhos de esmeralda
    Quero roubar a noite e te dar de presente
    Pois voce é toda preciosidade.

    Márcio Almeida

    quinta-feira, 10 de março de 2011

    Leprechaun.

    Um carinha baixinho e peludo certa vez me disse...
     " Desastrada, manhosa, insegura, essa tatuagem não foi feita para qualquer uma, meu amigo um conselho vou te dar, não adianta o caminho que escolher ele te levara sempre ao mesmo lugar sempre a mesma garota, meu colega essa é a guria da sua vida! "
    Agora mais do que nunca corro atras do que eu quero, sempre quiz sempre te amei e você sabe.
    Gizele Te amo!

    _____________________________________________________________
    Ally.

    Plundered My Soul

    Plundered My Soul Rolling Stones
    Can you believe it
    I've won no medals
    In this love game
    I've been resting on my laurels
    I'm a bad loser
    I'm a yard off my pace

    I smell rubber
    And I soon discover
    That you're gone for good
    My indiscretions
    Made a bad impression
    Guess I was misunderstood

    I thought you needed my lovin'
    But it's my heart that you stole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    (Plundered my soul)

    I started askin' around
    But your friends'
    Pretty lips were sealed
    I wrote a letter
    Full of trite confessions
    About wounds that heal

    I heard some gossip
    You'd become an alcoholic
    You were dryin' out
    So I phoned every clinic
    In the Yellow Pages
    Not a trace I found

    I thought you needed my lovin'
    But it's my heart that you stole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    (Plundered my soul)

    I hate quittin'
    But I'm close to admittin'
    I'm a sorry case
    But on quiet reflection
    My sad rejection's
    Not a total disgrace

    But I do miss your quick repartee
    And the smile
    That lights up your face
    You'll be a hard act to follow
    A bitter pill to swallow
    You'll be tough you'll be tough to replace

    I thought you wanted my lovin'
    But it's my heart that you stole
    You were a trick up my sleeve
    My ace in the hole
    I thought you wanted my money
    But you plundered my soul

    Oh plundered my soul
    Oh yeah (plundered my soul)
    You plundered my soul
    Yeah yeah (plundered my soul)
    Oh yes yes yes you baby
    (Plundered my soul)


    http://www.vagalume.com.br/the-rolling-stones/plundered-my-soul.html#ixzz1GD8qfBEu

    Alto

    Ele estava tão alterado que não reconheceu o fogo queimando nos olhos dela. Ela sussurrou um "adeus" e partiu novamente, para pegar o avião. Ele, que estava jogado na poltrona, trajando apenas um jeans, ficou observando ela partir estalando o chão de madeira com os saltos de seus sapatos.
    Minutos após a saída, ele se levantou passando a mão na cabeça e se dirigia até o quarto. A cama ainda estava desarrumada e e o perfume dela ainda permanecia naquele recinto. De olhos fechados, ele foi para o banheiro com uma toalha nas costas. Como ele fazia isso com ele mesmo? Não era sofrimento demais para seu coração?
    Se despiu e deixou que a água quente escorresse da cabeça para as costas. Sentiu um pequeno ardor abaixo do ombro esquerdo e se lembrou das unhas dela. Unhas vermelhas afiadas, porém não muito compridas.
    Sorriu de lado e mergulhou nas lembranças de mais uma noite com ela.

    Ela estava com o coração partido quando saiu pela porta, mais uma vez. Aquele corredor de madeira, tão conhecido por ela, aquele barulho das rodinhas e o tic tic do salto batendo no assoalho.
    Partiu com lágrimas nos olhos. Secretamente, desejava que ele abrisse a porta, tomasse uma atitude e a tomasse pra ele. Mas sabia que ele não faria isso. Ele estava compenetrado demais se matando aos poucos e não percebia que estava carregando ela pro buraco denovo.
    Porque era tão difícil se desprender daquele amor? Ela o amava demais. Continuou o caminho, devagar.

    Ele sabia que era cada vez mais difícil ficar sem ela. Tudo lembrava sua amada, o cheiro de gengibre na fronha branca, os brincos de pérola que ela havia esquecido na cabeceira da cama ...
    Os dias que passava sem ela por perto acabavam com ele. Procurava saída em entorpecentes, a fim de aliviar a dor que carregava em seu peito.
    Se ele corresse, ainda daria tempo de chegar antes do avião partir. Se o avião não partisse, faria de tudo para que ela permanecesse mais um tempo com ele. Pelo menos tentaria!
    Colocou a calça e apanhou uma camiseta, pegou as chaves do carro e seguiu para o corredor. Tomaria uma atitude, a única coisa que fazia sentido pra ele nos últimos tempos estava partindo e algo dizia a ele que se ele não correce atrás agora, a perderia para sempre.

    Uma lágrima correu dos olhos pela buchecha. Rapidamente ela a limpou. Pra que criar esperanças? Já estava dentro do táxi e ele não iria atrás dela.
    Nunca percorreu o corredor tão devagar, na vã esperança de que ele abriria a porta, a tomaria nos braços e impediria de voltar para casa.
    O táxi estava para partir, o motorista estava trocando o pneu, que havia furado na porta do prédio dele.

    Ele vestiu a camiseta no elevador, e correu para a garagem. Deu partida no carro e esperou o portão abrir. Tinha algum idiota bloqueando a passagem, trocando um pneu. Businou, irritado. Não sabia que poderia estar perdendo o amor da sua vista, naquele exato momento?
    Saiu do carro, batendo a porta com força. Ia começar a discutir com o cara quando viu quem estava dentro do taxi. Deixo o motorista falando sozinho e foi até o táxi, abriu a porta.

    Ela se assustou com a porta se abrindo daquela forma. Olhou e ficou com com os olhos cheios de lágrimas.

    Ele não falou nada, colocou a mão no pescoço dela e aproximou os lábios dos dela.

    Se beijaram como da primeira vez. Lágrimas escorreram pelos olhos dela.

    -Vem! Não vá embora nunca mais. Nunca me deixe. - Pediu ele, olhando nos olhos dela. - Você é tudo que eu tenho !

    Folha de Papel

    Dobra-me,
    faça de mim um barco
    para navegar em seu olhar
    e naufragar.

    Dobra-me,
    faça de mim um tsuru
    para te trazer sorte
    e poder voar pra longe,
    pra perto de você.

    E no fim,
    desdobra-me.
    Amasse-me,
    assim eu volto ao nada
    que sou.

    Relacionamentos, 'Do amor'.

    “(...) Relacionamentos são laços invisíveis, quase sempre emaranhados e complicadíssimos. Claro, o principal ingrediente é “gente”(coisa complicada, naturalmente). Porque, como se sabe, nossa humanidade, desde a criação, já veio atrapalhada. Ora, se nem Eva nem Adão souberam dominar os próprios sentimentos, o que dizer de nós, meros herdeiros do mistério.
    Vacilamos: amamos demais, amamos de menos, amamos ao contrário, amamos pra dentro, amamos com raiva ou amamos sofrendo. Ou, melhor dizendo, amamos da maneira que sabemos (e podemos). Por isso, não raso, romances se acabam, amigos se separam, pais abandonam seus filhos e estes, em última instância, os culpam pelos seus próprios relacionamentos falidos.
    Ah, o amor (e seus percalços)!
    Quanta gente nunca soube dizer eu te amo, mesmo sentindo no peito a vontade esburrando; e quantos já não gastaram estas palavras mesmo quando por dentro não sentiam absolutamente nada.
    Certos ou errados, inteligentes ou atrapalhados, naturais ou esforçados, fortes ou fracos – somos quem somos e amamos da mesma forma que estiver ao nosso alcance.
    (...)
    Fato. Especialmente no quesito relacionamento, somos amadores, confusos, medrosos, culpados, exagerados e desordenados. Porque (não tem jeito): saber amar a si mesmo, o outro, ou nossos pais e amigos deveria ser fácil, mas na prática, acaba sendo um exercício – (que, não raro, demanda tempo, dedicação, compreensão, paciência, confiança e generosidade).
    (...)
    Mas, para evitar o esforço desnecessário, uma única simples verdade deveria sim ser ensinada na escola (e exercitada por todos – a todo custo e de qualquer maneira):
    - Amar é deixar que o outro seja [simplesmente, aquilo que ele é]. “
    {Trecho retirado da revista AG, da autoria de Maria Sanz Martins}

    quarta-feira, 9 de março de 2011

    Em Nome De Deus Sérgio Sampaio
    Eu nunca pensei que pudesse querer
    Alguma mulher como quero você
    Se o mago soubesse
    Juntasse o meu nome em S
    Ao seu nome em C
    Nas cartas de todo tarot que houver
    Em todo o I-Ching eu podia não crer
    Mas tudo é tão verde em seus olhos
    Não dá pra não ver

    Mas tudo é tão verde em seus olhos
    Você que se esconda, que eu vou procurar
    Você nem se iluda, que eu vou lhe encontrar
    Você pode ir e sair e sumir por aí
    Que não vai se ocultar
    Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê
    Eu pego carona até no Challenger
    E vou nos anéis de Saturno buscar por você

    E vou nos anéis de Saturno
    Sem ser João Batista, você batizou
    Meu corpo na crista das ondas do mar
    E aí me abriu feito ostra
    E colheu minha pérola pra Yemanjá
    Agora que estou à mercê de sua luz
    Em nome das águas lá de Bom Jesus
    Em nome de Deus, me carregue
    Me pregue em sua cruz

    Em nome de Deus, me carregue

    http://www.vagalume.com.br/sergio-sampaio/em-nome-de-deus.html#ixzz1GA1iKKnG

    Cara ou Coroa

    Gostaria que nada na vida fosse relativo
    seria tudo preto no branco
    não haveria falsas esperanças
    ou falsos carismas
    Tá certo que num jogo de par ou ímpar
    você tem 50% de chances pra bom ou ruim
    mas pelo menos você vai saber o que esperar
    A relatividade me irrita
    as probabilidades me entristecem
    e nessa loucura toda,
    a única certeza que temos é que a vida é uma roda de moinho
    Nunca pára, nunca volta atrás.
    A gente vai conforme a maré,
    a gente aceita.

    e continua o caminho.

    un tango

    vamos a bailar un tango
    debaixo da chuva
    y el dolor de casi adiós
    disse: fique.

    Questão de ser

    A chuva caía lá fora e ensopava o chão de terra, criando várias poças de lama. Dentro da casa se ouvia o som alegre do riso dela, resultado das inúmeras cócegas que ele aplicava em suas costelas.
    'Eu te amo' disse ele, de repente, olhando-a nos olhos.
    'Eu sei, mas você não devia', respondeu, delicadamente, acariciando o rosto dele.
    'E eu continuo te amando.', retrucou ele. 'Vai fazer o que, ein?'
    'Você me ama por eu ser extremamente diferente de todas as outras, mocinho. Por eu ser aparentemente uma coisa e por dentro, ser outra por dentro já é um bom motivo... Mas principalmente por que você nunca me encontrará em outra garota.' disse ela, sorrindo com os olhos e se espreguiçando entre os braços dele.
    Por alguns segundos ele perdeu a fala, ficou só observando. Aquela pequena criatura tinha razão. E ele já havia tentado isso e não havia conseguido.
    Observou seu pescoço alongado, seus ossos da clavícula, suas pequenas pintas, sua pele branca que avermelhava pelo simples toque de suas mãos.
    'Você é uma criatura irritante, sabia?'
    'Faço questão de ser, especialmente pra algumas pessoas.' Completou ela, divertida.

    quinta-feira, 3 de março de 2011

    Sinto sua falta inegávelmente
    tal qual aquela página no caderno
    'je vous aime...'

    quarta-feira, 2 de março de 2011

    Roubado

    Ele esperava-a, encostado naquela velha árvore e portando um pequeno lírio na mão direita.
    Ela estava distraída ouvindo música e nem percebeu que ele estava lá.
    Oi, disse ele, tirando-a de seus devaneios.
    Ela sorriu em resposta, retirou os fones e olhou bem nos olhos dele. 'O que cê tá fazendo aqui?', perguntou ela, ainda sorrindo.
    'Queria falar com você, pedir desculpas...', começou ele, com os olhos tristes. 'Sinto sua falta'.
    Aquilo a atingiu. Ele sentia mesmo a sua falta ou sentia falta de estar com alguma pessoa?
    Ela pegou o lírio da mão dele, gostando e ignorando o fato dele ter provavelmente roubado aquela flor do canteiro da praça ao lado.
    Pegou no queixo dele com uma mão e marcou os lábios dele com o carmim do dela. 'Quando descobrir do que realmente sente falta, a gente conversa sério.'
    Ele ficou sem ação.
    Ela entrou no prédio e sorriu, cheirando o lírio.