quinta-feira, 10 de março de 2011

Alto

Ele estava tão alterado que não reconheceu o fogo queimando nos olhos dela. Ela sussurrou um "adeus" e partiu novamente, para pegar o avião. Ele, que estava jogado na poltrona, trajando apenas um jeans, ficou observando ela partir estalando o chão de madeira com os saltos de seus sapatos.
Minutos após a saída, ele se levantou passando a mão na cabeça e se dirigia até o quarto. A cama ainda estava desarrumada e e o perfume dela ainda permanecia naquele recinto. De olhos fechados, ele foi para o banheiro com uma toalha nas costas. Como ele fazia isso com ele mesmo? Não era sofrimento demais para seu coração?
Se despiu e deixou que a água quente escorresse da cabeça para as costas. Sentiu um pequeno ardor abaixo do ombro esquerdo e se lembrou das unhas dela. Unhas vermelhas afiadas, porém não muito compridas.
Sorriu de lado e mergulhou nas lembranças de mais uma noite com ela.

Ela estava com o coração partido quando saiu pela porta, mais uma vez. Aquele corredor de madeira, tão conhecido por ela, aquele barulho das rodinhas e o tic tic do salto batendo no assoalho.
Partiu com lágrimas nos olhos. Secretamente, desejava que ele abrisse a porta, tomasse uma atitude e a tomasse pra ele. Mas sabia que ele não faria isso. Ele estava compenetrado demais se matando aos poucos e não percebia que estava carregando ela pro buraco denovo.
Porque era tão difícil se desprender daquele amor? Ela o amava demais. Continuou o caminho, devagar.

Ele sabia que era cada vez mais difícil ficar sem ela. Tudo lembrava sua amada, o cheiro de gengibre na fronha branca, os brincos de pérola que ela havia esquecido na cabeceira da cama ...
Os dias que passava sem ela por perto acabavam com ele. Procurava saída em entorpecentes, a fim de aliviar a dor que carregava em seu peito.
Se ele corresse, ainda daria tempo de chegar antes do avião partir. Se o avião não partisse, faria de tudo para que ela permanecesse mais um tempo com ele. Pelo menos tentaria!
Colocou a calça e apanhou uma camiseta, pegou as chaves do carro e seguiu para o corredor. Tomaria uma atitude, a única coisa que fazia sentido pra ele nos últimos tempos estava partindo e algo dizia a ele que se ele não correce atrás agora, a perderia para sempre.

Uma lágrima correu dos olhos pela buchecha. Rapidamente ela a limpou. Pra que criar esperanças? Já estava dentro do táxi e ele não iria atrás dela.
Nunca percorreu o corredor tão devagar, na vã esperança de que ele abriria a porta, a tomaria nos braços e impediria de voltar para casa.
O táxi estava para partir, o motorista estava trocando o pneu, que havia furado na porta do prédio dele.

Ele vestiu a camiseta no elevador, e correu para a garagem. Deu partida no carro e esperou o portão abrir. Tinha algum idiota bloqueando a passagem, trocando um pneu. Businou, irritado. Não sabia que poderia estar perdendo o amor da sua vista, naquele exato momento?
Saiu do carro, batendo a porta com força. Ia começar a discutir com o cara quando viu quem estava dentro do taxi. Deixo o motorista falando sozinho e foi até o táxi, abriu a porta.

Ela se assustou com a porta se abrindo daquela forma. Olhou e ficou com com os olhos cheios de lágrimas.

Ele não falou nada, colocou a mão no pescoço dela e aproximou os lábios dos dela.

Se beijaram como da primeira vez. Lágrimas escorreram pelos olhos dela.

-Vem! Não vá embora nunca mais. Nunca me deixe. - Pediu ele, olhando nos olhos dela. - Você é tudo que eu tenho !

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