quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Maldita

- Acho melhor sermos somente amigos mesmo, né? - Falei, olhando para os olhos cor do mar, embaixo do prédio dela.
Ela me sorriu, me abraçou e subiu. Criatura sem coração.
Desde a primeira vez que à ví, percebi que era a minha perdição.
A chuva piorou, mas não liguei. Caminhei tranquilo pelas quadras que separavam nossos prédios, enquanto a chuva lavava minhas lágrimas amargas.
Eu já sabia que acabaria dessa forma; conhecia a minha falta de sorte no amor (ou será que era em tudo?) e sabia o que se passava na mente dela.
Cheguei em casa e ninguem estava. Tranquei a porta do quarto e ví a agenda.
Maldito apanhado de papeis de capa amarela e vermelha, recheada com infames baladas românticas, milhões de clichês ridículos e caneta cor de rosa. Maldita caneta cor de rosa.
A joguei na parede, ela voltou pra mim, aberta naquele poema. É, realmente os franceses a roubaram de mim.
Precisava quebrar algo, alguém. Dessa vez, quem voou para a parede foi meu celular, caindo atrás da cama.
Procurei meus cigarros; abri a janela e fiquei espreitando a chuva, enquanto soprava a fumaça com cheiro agradável de cereja. Era o favorito dela.
Peguei dinheiro, joguei algumas coisas dentro de uma mochila e escreví duas linhas ao meu pai. Acendí outro, enquanto trancava a porta e descia as escadas.
A chuva não parava e eu realmente não estava nem aí pras minhas roupas encharcadas. Passei naquele bar com nome alemão, mesmo nome de uma das bandas favoritas dela.
Comprei uma garrafa e segui caminho.
Era uma droga lembrar dela em cada esquina. Precisava fugir daquelas lembranças. Ela já não me pertencia mais.
Peguei o ônibus sem deixar de beber. Pessoas me olhavam feio, eu olhava mais feio ainda.
Quando cheguei aonde precisava, logo ví um amigo. Ao ver meu estado, me perguntou oque havia acontecido.
Contei tudo pra ele. Chorei denovo. Acendí mais um cigarro.
- E agora? Vai deixar como está? - me perguntou ele.
- Vou fazer o que? Ela ama ele.. aquele riquinho filho duma puta. E ele nem mora aqui! - Me irritei, chutei uma pedra.
- Ponto pra você. E no mais, se você desistir agora, você mudou muito. Não é mais aquele cara que eu conheço desde pequeno, roubando manga verde.
Sorrí da lembrança de parte da minha infância.
É, eu não ia desistir daquela doida. Daria um tempo, mas depois, eu a reconquistaria.

Um comentário:

  1. nem sei se maldita é a palavra certa para baderneira..... não neste sentido.... chata!

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